Alternativa tem ganhado espaço no cenário brasileiro e atende aos anseios das populações mais jovens, desapegadas da posse do bem material.
Quem tem um carro próprio sabe muito bem a série de cuidados e despesas que a aquisição deste bem acarreta, que vão desde a pesquisa, escolha e negociação do modelo, realizar o licenciamento, pagar os impostos e seguro, controlar as revisões, etc. Toda essa gestão implica em grande dedicação de tempo e de recursos financeiros para manter o veículo em adequadas condições de uso. Somando isso à situação vivida nos últimos 18 meses, em que o deslocamento para as tarefas de rotina, como ir ao trabalho, levar filhos à escola etc., foram reduzidas drasticamente, uma alternativa de mobilidade tem crescido na preferência dos motoristas e usuários de automóveis: os dos carros por assinatura.
Conhecido também como carsharing, esse é um modelo ainda pouco difundido no país, mas que vem se consolidando nos últimos anos. “É uma tendência observada não só no Brasil, mas principalmente nos mercados europeu e americano. É uma movimentação consistente rumo às novas modalidades nas quais a pessoa deixa de ter a propriedade do bem para ter apenas a posse momentânea”, explica Milad Kalume Neto, diretor de novos negócios da consultoria automotiva Jato Dynamics, em entrevista para a InfoMoney.
Na prática, a modalidade funciona como um sistema de locação mensal de longo prazo, no qual o interessado aluga o veículo por um determinado período, que costuma variar entre um a três anos, podendo renovar o contrato ou devolver o carro depois desse período. Em alguns casos, inclusive, é possível adquiri-lo ao final do prazo. Por enquanto o modelo está sendo praticado por locadoras, mas já existe também algumas montadoras oferecendo o serviço ao mercado. Em ambos os casos, porém, pode-se dizer que o serviço ainda é limitado a algumas cidades e modelos, dado que o público-alvo consiste primordialmente nas novas gerações, mais desinteressadas em ter um carro próprio. Segundo pesquisa da consultoria empresarial Delloite, 56% dos jovens brasileiros da geração Y e Z consideram “dispensável” ter um automóvel.
Até mesmo por isso, o perfil dos clientes é diferente de quem compra um veículo ou aluga por alguns dias. Em sua maioria, são jovens de classe A e B, que têm interesse no uso e não na posse do bem, buscando uma maior praticidade para o dia a dia. Além destes, famílias cujos provedores de renda estão numa faixa etária entre 31 e 40 anos também têm optado por essa alternativa, além de alguns tipos e portes de empresas buscando um menor custo com as frotas.
Vantagens e desvantagens da assinatura
Em muitos dos casos, o principal objetivo quando se fala em carros por assinatura é a comodidade para os motoristas usuários dos veículos. Além disso, um outro ponto favorável é o fato de estar sempre rodando em um carro novo, fator esse que traz segurança e confiabilidade para adesão do público feminino. Ainda dentro das vantagens, questões como emplacamento, IPVA, licenciamento, seguro e revisões estão previstas no valor da parcela mensal. Assim, o cliente pode até mesmo optar por um veículo de uma categoria acima da que ele poderia comprar normalmente.
Na ótica financeira, optando por essa modalidade o usuário não arca com a desvalorização, não tem perdas durante uma possível troca e não arca com os juros do financiamento. Por outro lado, o cliente precisa entender que o pagamento é feito por um veículo que não será dele ao final do contrato, sem possibilidade de revenda para recuperar parte do dinheiro gasto.
O seguro também é uma questão a ser observada, pois apesar de ele estar incluso na parcela mensal, o assinante arca com o valor integral da franquia em caso de sinistro, da mesma forma que ocorre no carro próprio. Ultrapassar a quilometragem estabelecida em contrato também é um aspecto a ser considerado, pois há multas por quilômetro excedente. E, entre três e quatro anos de uso, o carro por assinatura sai menos em conta do que um comprado à vista ou através de financiamento com poucas parcelas.
Nesse sentido, a Mobiauto fez uma comparação entre a compra e a assinatura, sem chegar a resposta definitiva sobre qual opção é melhor. Além disso, o InfoMoney elaborou análise dos principais serviços, para comparar os preços. Todas essas informações podem ajudar a embasar a decisão, mas o principal é considerar o tempo pretendido de uso e o que se deseja fazer com o veículo para definir qual a melhor opção para você.
Quem tem uma rotina mais fixa, por exemplo, pode encontrar no carro por assinatura uma opção viável e com menor dor de cabeça. Já quem usa de forma mais esporádica, ou percorre longos trajetos mensalmente, precisa colocar na calculadora o gasto por deixar o veículo parado ou por extrapolar a cota de quilômetros mensal.
Montadoras e locadoras no mercado de assinaturas
As questões econômicas e a falta de peças e de semicondutores ao redor do mundo chegaram a deixar fábricas de automóveis fechadas e diminuíram o ritmo de produção. Como consequência, o faturamento na venda de veículos também caiu e a opção das assinaturas veio como alternativa de receita extra para enfrentar o atual cenário.
“Sem dúvidas o modelo é uma nova fonte de receita. O ideal, do ponto de vista da fabricante, é estar presente em todos os elos da cadeia do setor automotivo. Atuar em segmento de locação, que antes era dominado pelas locadoras, é uma possibilidade a mais de rentabilizar o negócio”, diz o economista Raphael Galante, em entrevista para o InfoMoney. E isso também afeta as locadoras de veículos tradicionais.
Segundo a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), a frota das locadoras de veículos chegou a 1.007.221 veículos em 2020, maior índice da história. Para a Porto Seguro, por exemplo, a modalidade de carros por assinatura cresceu 36,2% no ano passado, começando a gerar lucro para a empresa. “Os consumidores estão migrando cada vez mais da posse para o uso do serviço. Essa é uma mudança cultural que envolve novos hábitos de consumo em diversos setores. (…) O modelo de veículos por assinatura representa um pilar estratégico e deve crescer bastante nos próximos anos”, avalia Breno Davis Campolina, head de frotas e projetos da Unidas em entrevista para o InfoMoney.